Jardins

Teçá estava casada há quase um mês, e ainda não amava Stefan. Ela estava um pouco decepcionada consigo mesma porque o marido era sim, surpreendente e cativante, e no entanto, faltava algo. Alguma coisa não se encaixava, e isso a enlouquecia. Os jantares eram sempre luxuosos, o vinho que agora permitiam que ela bebesse, parecia sempre doce o suficiente, e a cama deles era macia. E claro, Stefan a tomava na cama e a fazia se sentir bem o bastante para querer continuar nela por horas. Horas. Mesmo assim, ela se sentia incompleta.

Naquele dia, porém, Teçá estava sentada em um dos balanços do jardim e o foco de seus pensamentos não eram a sua infelicidade sem sentido, mas Rosalie. A cunhada fora finalmente prometida em casamento, e conheceria o futuro marido em três dias. Três dias. Pobrezinha, estava desesperada e Teçá entendia. Queria poder ajudar de algum jeito, mas não sabia como. Portanto aproveitou que Stefan estava fora a negócios, e esperou a noite cair para se sentar sozinha e pensar.

Ela inalou o ar, fitando a lua enquanto uma brisa balançava os seus cabelos loiros em cima da camisola. Ficar sozinha ao ar livre era um escape para a mente, e um prenuncio de novas ideias. Mas Teçá perdeu o fôlego quando olhou para a frente, e encontrou um homem parado, com os olhos vidrados. Não o reconheceu. Nem de imediato, nem depois de um minuto observando-o em silêncio.

- Posso ajudá-lo? - ela respondeu, se colocando de pé e se sentindo completamente nua naquela camisola.

- Ah, você pode realmente me ajudar - o homem avançou um passo. Teçá deu dois para trás, contando quantos passos precisaria correr para chegar em casa e pedir ajuda. Era tarde, mas alguém certamente viria se ela gritasse.

- Eu não estou sozinha. Stefan está comigo, ele está colhendo algumas ervas aqui perto - ela tentou se defender.

O homem riu, jogando a cabeça para trás. Ela tremeu. Ele era mais alto, tinha cabelos desgrenhados e vestia preto da cabeça aos pés.

- Eu sei que o merda do seu marido não está em casa. Mas tenho um recado para ele.

Teçá correu. Não esperou que o homem terminasse o que quer que estivesse prestes a falar, ela deu as costas e começou a correr, sentindo o ar sumindo de seus pulmões. Então caiu de cara no chão, com o peso de um corpo em cima do seu.

Ela gritou. Ou tentou gritar. Mas o homem a virou de frente e tampou a sua boca. Ela se debateu, desesperada, agonizando, tremendo e com lágrimas no olhos. Ele se inclinou, mostrou os dentes afiados, tão diferentes do habitual. E Teçá não viu mais nada.

...

Teçá acordou, sentindo a garganta queimar. Ainda era noite, e o sereno caía em uma fina camada sobre si. Ela estava sozinha, e demorou apenas um segundo para se lembrar do que acontecera. Tentando se colocar de pé, a garganta queimou mais uma vez. Queimou tanto que parecia que ela tinha bebido as chamas de uma fogueira. De repente, respirar se tornou difícil, difícil, difícil. Ela estava morrendo?