Entrada da Mansão

Entrada Principal da Mansão Himmelfall

Teçá era incapaz de saber se aquele era o ponto alto ou baixo de sua vida, mas mesmo assim, ela mantinha um sorriso muito agradável nos lábios rosados todas as vezes que precisava abaixar o leque da frente do rosto. Sim, infelizmente ela precisava manter as aparências até mesmo na frente dos seus pais. O senhor Lengyel, um homem muito inteligente apesar da grande protuberância de sua barriga quase saindo das calças, era também muito impaciente. Por esse motivo, era imprescindível que a única filha dele se mostrasse muito bem educado. Do contrário, Ilca, a senhora Lengyel, precisaria dispor todo o seu tempo e disposição para ouvir inúmeros sermões e reclamações.

Era terrível. Mas era mais fácil assim. Se fingir de ingênua, de desapercebida. Teçá desenvolvera a impressionante habilidade de fingir simpatia, de fingir ser apenas aquilo, uma casca vazia e sorridente que concordava com quase tudo. Quase. Certa vez ela apanhou e ficou presa no quarto por duas semanas, ao desacatar o pai na frente de todos quando ele destratou um emprego.

Ela não suportava injustiças.

Teçá era impressionantemente inteligente e astuta. Havia perspicácia genuína em seus olhos sempre brilhantes, e aquele era o único vestígio de que ela era ALGUÉM além daquela casca, que fazia questão de não esconder. Tinha esperanças de que um dia encontraria alguém que notasse.

- Espero que você se lembre de tudo o que lhe ensinei até agora - Ilca repuxou os lábios numa careta. Ela era boa, só um pouco amarga.

- Sim, mãe. Seguirei todas as suas sempre atenciosas dicas e conselhos. Não se preocupe - Teçá respondeu, e num erro de cálculo acabou olhando para os olhos do pai. Ele soergueu as sobrancelhas.

- O que foi, querida? - ele perguntou, mas não parecia haver gentileza alguma em sua voz.

- Nada.

- Nada? - ele insistiu.

Teçá ergueu os olhos. E se arrependeu no mesmo instante em que abriu a boca, mas as palavras simplesmente saíram:

- Como será que ele é?

Ilca tossiu. Senhor Lengyel ficou vermelho.

- Você sabe como esse casamento é importante para a nossa família, não sabe? - ele indagou, inflando o peito como um sapo - Espero que tenha plena consciência do fato, e não nos perturbe com baboseiras como a sua aparência ou a sua idade. Isso não importa.

Aquilo importava. Talvez não a aparência, mas a idade... aquilo a incomodava. Muito, na verdade. Como poderia se casar com um homem que ela não sabia ao menos quantos anos tinha? Queria gritar. Queria surtar. Teçá não era romântica, apesar de acreditar no amor, estava mais para realista.

Naquele dia em específico, ela era pessimista.

Ainda assim abriu um sorriso e assentiu com a cabeça para o pai.

Ao menos a carruagem parou. Ansiedade e medo e angústia e curiosidade e milhares de outros sentimentos que a faziam se sentir viva e morta ao mesmo tempo tomaram conta de si. Mas ela ainda mantinha o pequeno sorriso sem dentes nos lábios quando desceu da carruagem atrás dos pais. Quando caminhou firme, mesmo duvidando de que fosse conseguir, e os acompanhou até a pequena recepção formada em frente a Mansão.

- Senhor e senhora Rothstein, é um prazer revê-los - senhor Lengyel tomou a frente, e estendeu a mão - Deixe-me apresentar a vocês a minha querida esposa, senhora Lengyel, e a minha magnífica filha, Teçá.

- Senhores - Teçá fez uma reverência polida, e se atreveu a erguer os olhos que em pânico, só haviam vagado sem prestar atenção em absolutamente nada. Ela gelou com a aparência dos sogros. Com o nariz em pé de sua sogra. Gelou ao ver um homem bonito e jovem parado ao lado deles. E piscou. Uma, duas. Três milhões de vezes, ela arriscaria dizer. Aquele seria...?